<$BlogRSDUrl$>

sábado, maio 22, 2004

Meia-hora e tu 

Meia-hora. Terá sido tão pouco tempo? O certo é que, quando aquela passagem de nível fechou, a chuva começou a cair com mais força. Pingos grossos, que deixaram o pára-brisas cheio de círculos grandes, campo minado de água.
Quando me canso de esperar, desligo o carro, tiro o cinto e recosto-me bem no banco, à espera. De vez em quando, um relâmpago, seguido de um som de folha de zinco abanada por trás do palco, 10, 12 segundos mais tarde. “Já está a ir embora...”, enquanto sorrio ao ver a rapariga do carro de trás a abrir o vidro e, espontaneamente, a emprestar o isqueiro ao motard parado ao nosso lado, vendo-o procurar desafortunadamente nos bolsos do fato de cabedal. Bem basta a chuva!

“One hand loves the other
So much on me

Born stubborn, me
Will always be
Before you count 123
I will have grown my own private branch
Of this tree

You: gardener
You: discipliner
Domestically
I can obey all of your rules
And still be: be

I never thought I would compromise
I never thought I would compromise
I never thought I would compromise

let's unite tonight
we shouldn't fight
embrace you tight
let's unite tonight

I thrive best
Hermit style
With a beard and a pipe
And a parrot on each side
But now I can't do this without you

I never thought I would compromise
I never thought I would compromise
I never thought I would compromise

let's unite tonight
we shouldn't fight
embrace you tight
let's unite tonight

One hand loves the other
So much on me

let's unite tonight
we shouldn't fight
embrace you tight
let's unite tonight

let's unite tonight
we shouldn't fight
embrace you tight
let's

unison”
no carro. E lembro-me de ti. De como me devolveste a confiança. E de como fazes de mim uma melhor pessoa.

Alguns minutos, mais tarde, ouço o roncar inconfundível de uma Vespa aproximando-se lentamente... O careca (como venho a descobrir um pouco mais tarde) de meia-idade com o equipamento de pesca às costas desliga o motor. Fica ali por alguns minutos, enquanto a chuva abranda, já o pára-brisas está cheio de gotas enormes, redondas, um caleidoscópio aquático. O homem da Vespa apeia-se, arrisca-se até à borda da linha, a ver se o comboio finalmente vem “Nem o pai morre, nem a gente almoça!”, ouço-o dizer, por entre o gotejar contra os vidros, as suas feições grotescas através do meu caleidoscópio. Tenho o vidro aberto, não gosto do cheiro a fumo dentro do carro. Não consigo conter um sorriso aberto, visível até para ele, que se ri para mim “Deve ser para os peixes não estranharem estar fora de água!”. Passa um pendular, lentamente. O pescador corre para a Vespa, ouvem-se os carros a serem ligados, parece um arranque de Fórmula 1. Não sei porquê, não tenho vontade de ligar o carro. Espero. E, de facto, a cancela continua em baixo, as pessoas dos dois lados da linha olham-se, expectantes. Voltam a desligar-se os carros. Minutos mais tarde, surge o comboio de mercadorias, inconscientemente aguardado. Voltam a arrancar os motores, desta vez a guarda vem, passo lento, certo, roda a manivela, levanta-se a cancela. Passamos todos, lentamente, que o piso é irregular. A fila já do outro lado, já ia nuns 600 m, enorme para os meus padrões de interior. Alguns metros à frente, um cavalo que já foi branco, sujo, puxa uma carroça, encharcado. E sei que no sossego da minha vida há lugar para a tua agitação pacificada. Mas gosto muito das minhas raízes.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com